Aborto é um assunto muito
discutido nesse século, pois envolve opiniões baseadas em saúde pública,
direito da mulher, religião e embriologia.
Rápido crescimento do encéfalo e
saliências faciais (rudimentos de nariz, olhos e orelhas). Face em contato com
o coração. Brotos dos membros superiores em forma de remo, e inferiores em
forma de nadadeiras. Na sexta semana, sua boca começa a se formar, e seu coração rudimentar
pode ser ouvido batendo. O seu coração e coluna são visíveis. Cotovelos e placa
das mãos com raios digitais, contrações musculares do tronco e membros,
saliências auriculares (meato acústico externo). Olhos e pescoço são evidentes. Já responde ao toque. Com 7 a 8 semanas de gestação, o
embrião é capaz de realizar movimentos muito simples, devido a medula espinhal
já estar desenvolvida. Ele agora é capaz de sentir o toque e desviar, possuindo
reflexos. Lábio superior está completo e o nariz é mais proeminente. O palato
não está completamente desenvolvido. Pálpebras, olhos e orelhas evidenciáveis.
12 semanas
A partir de 12 semanas, a genitália externa
adquire as características peculiares ao sexo genético do bebê, apesar de ainda
não ser possível identificar o sexo ao ultra-som. Crescem os olhos e as
orelhas. Começa a formação dos principais ossos do corpo. Os dedos dos pés e
das mãos já estão diferenciados, e as suas unhas surgem.
Agora que temos em mente que o
desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso começa na terceira semana de
gestação e todas as suas partes já são visíveis com 7 semanas, entendemos que o
desenvolvimento é gradual. No início da terceira semana, o que temos é um início
de SNC rudimentar, que vai se transformando em algo cada vez mais parecido com
o de uma criança nascida ao longo das semanas. Ele já existe, mas não em toda a sua capacidade. A atividade funcional do cérebro, ou seja, os primeiros
indícios de atividade cerebral são percebidos com 5 ou 6 semanas, e consistem em movimentos de extensão ou flexão do colo e
da região torácica. Eles vão progredindo gradualmente até que todos os padrões
motores aparecem presentes no início do segundo trimestre.
Por isso, as leis
determinam a semana 20. Somente a partir dela a atividade cerebral sugere
que o sistema nervoso central está formado ao ponto de todos os padrões motores
estarem presentes.
A certeza de que o
feto sente dor é a partir da semana 20, antes disso, não há indícios de que ele
possa sentir, e apesar de não podermos ter certeza, essa afirmação ainda é
a mais aceita entre os embriologistas. Porém, somente o fato de um feto não sentir dor, é suficiente para tornar o
aborto um ato ético ou moral?
Quem é contra o
aborto sempre faz a famosa pergunta: “então, se não sente dor, pode matar?”, logo
após outra pessoa explicar o porquê do aborto ser feito na vigésima semana. Depois da pergunta, argumentam que existem pessoas com uma doença capaz de fazer
com que elas não sintam dor (Síndrome de
Riley-Day) e que mesmo assim, ninguém acha certo matá-las, ou ainda, argumenta
que se for essa a lógica, poderíamos dar anestesia geral em pessoas e mata-las, pois isso seria ético e moral, olhando pelo ponto de vista de quem defende o
aborto, pelo fato do feto não sentir dor.
Podemos
dizer, então, que somente esse argumento
não é o suficiente e deve ser complementado. A diferença entre matar uma
pessoa em coma, inconsciente ou anestesiada, para matar um feto antes da
vigésima semana, é que pessoas nascidas são reconhecidas como pessoas, possuem
uma identidade, uma personalidade e são cidadãos, além do fato de que antes de
estarem nesse estado anestésico, eles já tiveram uma consciência, o que não é o
caso do feto.
Quando começa a vida?
Vida. Uma palavra tão simples e ao mesmo tempo tão complexa de ser explicada. Qual a definição de vida?
"A qualidade que distingue um ser funcional e vital de um corpo não vivente ou pura e simplesmente da matéria química. O estado de um complexo material ou indivíduo, caracterizado pela capacidade de executar certas funcionalidades incluindo metabolismo, crescimento e reprodução"
Essa é uma das definições mais usadas. Podemos dizer que um alface é vivo, uma formiga é viva, uma bactéria é definitivamente viva... mas células também são vivas. As células de um organismo podem encontrar-se em três situações diferentes: elas podem estar vivas, hibernando – como que adormecidas (por exemplo, células musculares com deficiência de irrigação sangüínea) – ou mortas. Claro que quando dizemos: "célula viva" não é no mesmo sentido que nos referimos a um paciente em um hospital. Um organismo possuir vida não é realmente a pergunta certa quando estamos falando sobre aborto.
Qual a diferença de perguntar: "quando começa a vida?", "quando começa o individuo?" ou "quando começa o ser humano como pessoa de direito?"
Todas essas perguntas possuem explicações diferentes. Vamos lá.
Quando começa a vida?
Existem pessoas que fazem essa pergunta pensando em "quando começa a vida humana" e na verdade não é sobre um organismo que ela está querendo saber, e sim sobre a pessoa humana. Mas se for pra responder exatamente o que ela pergunta, a resposta é: a vida, no sentido de existir um organismo com DNA novo de uma determinada espécie, começa quando o espermatozoide fecunda o óvulo.
Cerca de metade desses embriões morre nos primeiros dias, já que é super comum eles não se fixarem na parede do útero e serem expelidos. Sendo assim, a gravidez nem teve chance de começar. E esse organismo que resulta da fecundação não é um indivíduo.
Quando começa o indivíduo?
Uma parte dos cientistas definem o início da vida humana nesse estágio, quando o embrião ou mais de um embrião tem mais de 15 dias da fertilização, pois somente nesse instante não é mais possível o embrião se dividir e dar origem a outro embrião de DNA igual, formando os gêmeos univitelinos.
Se o embrião quando formado pode dar origem a outros "organismos da espécie humana" até determinado período, então ele não é uma pessoa, não é um indivíduo, mas certamente ele é humano. O que nos faz humanos é nosso DNA, somente isso. Somos seres humanos pois nosso DNA corresponde a essa espécie. Não importa se somos adultos, embriões na tuba uterina, no útero ou mesmo em vidros congelados em um laboratório de células-tronco, todos os embriões são humanos. E por isso ele tem direitos? O DNA nos torna humanos, sem dúvida, mas é ele que nos torna pessoas de direito?
Quando começa o ser humano como pessoa de direito?
Essa pergunta sai do campo da embriologia e pode ir para a metafísica, filosofia...
Quando fazemos essa pergunta não estamos nos referindo a um embrião e nem a um feto em início de gravidez. Quando fazemos essa pergunta nós já sabemos que um feto pode ser considerado vivo e pode ser considerado humano, mas queremos saber de outra coisa...
Tendemos a levar com muito peso as palavras humano e vida quando na verdade não são elas que importam. Quem nunca ouviu um: "abortar é assassinar, é uma vida, é um ser humano! Como pode você não ver problema em ser um assassino?".
Tem gente que acredita que a vida humana começa somente quando o bebê nasce e isso é só uma maneira errada de interpretar a pergunta... o ser humano começa a ser pessoa quando possui consciência, e é isso que vamos entender agora.
Consciência e o título de pessoa
Quando
decidimos se vamos matar um ser vivo, seja ele animal, humano ou vegetal, de forma
ética e moral, devemos levar em consideração três coisas: se esse ser vivo é consciente de si e do mundo a sua volta,
se ele possui senciência e se ele sente dor. Se ele possui os três requisitos,
certamente ele é igual a nós, portanto, não seria ético ou moral matar seres
semelhantes a nós, pois eles sendo semelhantes, devem possuir direitos
semelhantes, e um dos mais básicos é o direito de viver. Por isso, não nos
importamos em matar vegetais (seres vivos, porém, sem os três requisitos) mas
nos importamos em matar animais (a maioria tem os três requisitos).
Podemos
dizer que o feto até a vigésima semana é consciente, senciente e que sente dor?
Já
sabemos que a grande parte da comunidade científica concorda que antes da
vigésima semana, não há indícios de que o feto possa sentir dor. O que a
comunidade científica não entra em consenso é sobre definir se um embrião ou
feto pode ser chamado de pessoa, e não somente de “organismo da espécie humana”,
pois essa questão não faz parte da biologia, que é materialista, e sim da
filosofia. Somos seres sociais ao mesmo tempo que somos um grande amontoado de
células ambulante. Se limitar somente à ciência
materialista para nos definir não é coerente.
A definição de consciência no
dicionário é: "sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano
vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo
interior/ sentido ou percepção que o ser humano possui do que é moralmente
certo ou errado em atos e motivos individuais."
O médico e
presidente da SBB, Cláudio Lorenzo, professor do Programa de Pós-Graduação de
Bioética da Universidade de Brasília (UnB), com doutorado no Canadá em ética
aplicada a ciências clínicas diz que “na minha opinião pessoal, a vida humana é
quando há uma relação com o outro, sentimentos e percepções proeminentes
humanos. O embrião até 12 semanas não tem o sistema nervoso para estabelecer
qualquer espécie de relação. Um bebê que seja capaz de sonhar e perceber coisas
maternas tornou-se pessoa. Essa definição vem de Aristóteles, que definia que
nesse período da gestação a criança era gente, ganhava alma. Nesse caso, apesar
de o embrião não ser coisa, não posso comparar a questão moral de uma mulher
que não deseja prosseguir uma gravidez em relação a algo que tem o potencial
futuro de vida”.
Para considerarmos que o feto possui
consciência, ele deve experimentar trocas de experiências com outros indivíduos, e isso ocorre somente após todo o SNC estar desenvolvido o suficiente. Estudos
mostram que a partir das 28 semanas, o feto responde a estímulos de vozes e
também é capaz de sonhar. Quando isso acontece, podemos dizer que ele está
consciente de que existe, mas ainda não está consciente do que ele é, ele não
identifica o que é o próprio corpo ou o que é o cordão umbilical preso ao
mesmo. Para ele tudo é um só, e isso permanece assim até meses depois do
nascimento. Na verdade, o processo de consciência e senciência é tão gradual, que crianças menores de 18 meses não possuem autoconsciência, elas não se
reconhecem no espelho, não sabem quem são e não se identificam como indivíduos,
porém, elas já sentem emoções, sentimentos, e são capazes de trocar
experiências com outras pessoas, formando personalidade, mesmo dentro do útero.
Concluímos que um feto de 20 semanas não faz ideia de que ele existe, de que
ele vive, de onde está, do que pode acontecer ou do que já aconteceu. Estudos mostram que o feto dentro do útero está em um
estado de dormência inconsciente. O baque que ele leva no nascimento é o
acordar para a vida mais violento que um ser humano pode experimentar em toda
sua história.
(Crianças pequenas não possuem autoconsciência, não se reconhecem no espelho, não sabem quem são e não se identificam como indivíduos, porém, muitos dos animais que comemos e usamos para entretenimento são capazes de todas essas coisas além de sentirem emoções, sentimentos e trocar experiências com outras pessoas e animais, e mesmo assim a maior discussão é sobre se matar um feto que não possui nada disso e não sobre se é certo matar e usar todos esses animais. Isso é uma amostra do quanto humanos ligam para humanos somente pelo DNA, só por ser sua espécie, e não pelo que realmente importa, mas isso é assunto para outro texto.)
A senciência é a capacidade dos seres
de sentir sensações e sentimentos de forma consciente. Em outras palavras: é a
capacidade de ter percepções conscientes do que lhe acontece e do que o rodeia.
A palavra senciência é muitas vezes confundida com sapiência, que pode
significar conhecimento, consciência ou percepção. Como o feto de 20 semanas não
é consciente, ele não pode ter emoções como alegria, tristeza ou raiva conscientemente.
Se o feto de 20 semanas não é
consciente e nem senciente, entretanto, possui o DNA humano, ele pode ser considerado uma
pessoa?
A partir do momento que se tem um
embrião, também já se tem um código genético único.
Se extrairmos o DNA de um
embrião, o resultado vai ser: humano. Mas será que ser humano está
necessariamente ligado a ser pessoa?
“O feto é obviamente humano”, afirma
o biólogo José Roberto Goldim, ... “A questão é decidir quando ele se torna uma
pessoa com direitos e isso a ciência não pode responder, é uma questão
filosófica. ”
Dentro da filosofia existem debates
sobre o sentido preciso e o uso correto da palavra “pessoa”, e quais os
requisitos precisos para se definir se algo ou alguém é uma "pessoa".
Na filosofia, uma pessoa é uma entidade que tem certas capacidades ou atributos
associados a personalidade, por exemplo, em um contexto particular moral,
social ou institucional. Essas capacidades ou atributos podem incluir a autoconsciência,
a noção de passado e futuro, e a posse de poder deôntico, entre outros. Também,
filosoficamente, uma pessoa é o ser humano como agente moral. É aquele que
realiza uma ação moral e aquele que ajuíza sobre ela. O conceito de
"pessoa", na filosofia, é difícil de definir de uma forma que seja universalmente
aceita, devido à sua variabilidade histórica, cultural e as controvérsias que
cercam o seu uso em alguns contextos em diferentes linhas filosóficas. O que se
pode tirar disso é que definitivamente somente o material genético humano não é
suficiente para poder chamarmos um feto de pessoa. Podemos dizer que ele é uma
pessoa em potencial, um estado de desenvolvimento de uma pessoa, mas ele não é,
no momento atual de seu desenvolvimento em idade abortiva, uma pessoa.
Para muitas pessoas, um feto precisa
ser considerado pessoa desde sua concepção, somente por ter o DNA humano e por
estar em um estado de desenvolvimento que ainda não possui os requisitos necessários
para tal titularidade. Todos sabem que sem a interrupção da gravidez, o feto,
provavelmente, se tornará uma pessoa. Ninguém discorda disso. Sim, um feto sem
consciência de si somente está em uma etapa do seu desenvolvimento para
adquiri-la, mas esse não é o ponto. Não estamos discutindo em que um embrião de
DNA humano irá se tornar e sim o que ele é no exato momento em que se decide
fazer um aborto.
Não se pode comparar com pessoas em coma ou deficientes com
fetos, pois uma pessoa em coma está sim, inconsciente, mas esse é somente um estado
em que ela se estagnou após já ter adquirido consciência anteriormente. É diferente matar
alguém que já esteve consciente, que possui uma personalidade (mesmo que não a exerça
no momento do coma) e matar um ser que nunca teve nem consciência nem
personalidade. Matar um feto que nunca adquiriu consciência, filosoficamente, é
como se ele nunca tivesse existido, pois ele nunca soube o que é estar vivo.
Fetos antes das 20 semanas não possuem consciência, não são sencientes e
certamente não podem possuir título de pessoa, portanto, os
três requisitos precisos para que seja imoral dar um fim a sua vida
não estão presentes.
Por que então, tantas pessoas no
mundo julgam abortar como sendo imoral?
Muitas vezes é por falta de
conhecimento sobre o assunto. Talvez muitas pessoas que acham errado abortar
ainda acreditem que desde a concepção, o embrião pode ser chamado de pessoa, e
claro que matar uma pessoa é errado.
As pessoas acham errado matar quem não é um humano, se esse
alguém não tem consciência, senciência ou sente dor? Bem, para todos os seres
que não possuem DNA humano a nossa resposta é sempre sim, pois matamos seres
vivos sem os três requisitos a todo momento e nem paramos para pensar sobre isso. A questão só muda pelo feto ser humano.
Por que? Ora, olhe essa imagem novamente. É um feto com 20 semanas. É instintivo do nosso cérebro associá-lo a um bebê ou uma criança. É claro que para uma pessoa que não tem o conhecimento de tudo que está explicado nesse texto (ou simplesmente se recusa a aceitar que somente o fato de se ter o DNA humano não faz de todos os fetos pessoas) vai considerar um assassinato dar fim a um ser que se parece tanto visualmente com um bebê extrauterino. Até mesmo as pessoas que entenderam tudo do texto ainda vão se sentir relutantes em achar moral acabar com a vida de uma pessoa em potencial.
Se alguém que é fortemente a favor do aborto se deparar com um feto de 20 semanas abortado, em uma mesa estéril, sem vida, é quase certeza que vai sentir uma pontada de empatia ou algum tipo de lamentação, mesmo tendo ciência de que isso não é racional. Simplesmente a pessoa vai reagir aos seus instintos humanos de proteger seus semelhantes, independente do quanto ela saiba sobre o assunto e tenha sua opinião definida sobre.
Abortar está ligado a essa opinião, e não a vida do feto, já que para ele, morrer antes de ter seu SNC desenvolvido o suficiênte não causa dor, tristeza ou qualquer outro sentimento. Ele nem saberia que morreu, pois nunca esteve ciente de que estava vivo. Sendo assim, cabe a cada mãe e a cada pai decidirem se mesmo sem os três requisitos, o feto vale algo moralmente, simplesmente por ter o material genético único, proveniente deles dois. (relembre o texto de Dawkins)
A opinião de uma pessoa sobre ser ético ou não abortar vai depender de sua criação, nível de entendimento em todos os assuntos que envolvem o tema, mas é totalmente compreensível que se depois de saber a fundo sobre todos os aspectos que envolvem abortar, essa pessoa ainda ache errado, afinal, somos programados para ter empatia por nossos semelhantes e temos essa tendência a ser apegados demais ao conceito de que é uma grande importância ter o DNA da espécie humana.
Mesmo que no momento do aborto o feto não seja uma pessoa semelhante a nós, ainda temos a convicção de que em determinado momento, ela poderá vir a ser. Somos nós, dignos de determinar se isso pode ou não ocorrer?
Religião
A
opinião sobre o aborto ser imoral, além da falta de conhecimento sobre o
assunto e a opinião sobre a importância do código genético humano, também está
ligada à religião. Em muitas delas o aborto é errado, seja por acreditarem que
somente deus pode decidir quando uma pessoa morre (de novo, falta de
conhecimento filosófico sobre o que é ser pessoa) ou por acreditarem que cada
pessoa possui um espírito, e que esse espirito está presente desde a concepção,
sendo esse espírito eterno, é errado outra pessoa dar um fim a ele.
Toda
religião é uma questão de fé, portanto, de opinião. Todo mundo pode ter a
opinião de que o aborto é errado ou não, mas o fato científico e filosófico é
que essa opinião não interfere na vida de uma pessoa (pois o feto não é
pessoa), então ela não deve ser imposta.
Para quem acredita que todos nascemos com almas e espíritos próprios desde a concepção, aqui vai uma informação e uma pergunta que raramente vejo alguém fazer para um religioso: você sabia que gêmeos idênticos não são dois embriões desde a concepção? No início, é um só, até a 3ª semana de gravidez o embrião ainda pode se dividir, dando origem a dois ou mais gêmeos. Como fica a questão da alma? Desde o momento da concepção já se tem um embrião de DNA único, já é um humano, e por isso, ele já teria alma, afinal, todo humano tem alma, não é? Mas esse embrião se divide, essa alma não pode também se dividir, porque cada pessoa tem uma diferente, então quando o embrião se divide formando um ou mais gêmeos do nada surge outra alma para cada uma das divisões? Isso não parece um tanto fantasioso?
Saúde pública e direito da mulher
Um
dos argumentos usados para defender a legalização do aborto é que negar às mulheres acesso ao
aborto é negar-lhes direito ao seu corpo e a sua vida. O feto pertence ao corpo
feminino e a mulher — que como qualquer outro indivíduo é cidadã e soberana
para decidir o que deve ser feito, qual caminho seguir e deve ter garantido o
direito de escolha.
Pela ótica biológica o feto é uma entidade nova e completa, ele não é uma continuidade do
corpo da mulher, ele é um novo corpo. O “meu corpo, minhas regras” não faz sentido na biologia. O
feto está ali por um processo biológico natural, não é um intruso. Quem defende
esse argumento deveria mudar a estratégia para defender que o feto em idade
permitida de abortar, ainda não é uma pessoa e que não possui nem deveres nem
direitos como cidadão.
A razão pela qual as mulheres devem ter direito ao aborto é que elas possuem direito sobre sua própria vida e podem decidir matar a
vida dentro dela, já que a mesma está ligada à sua, na gravidez e após a ela,
quando se torna mãe. A mulher só pode decidir sobre uma terceira vida pois quem
possui essa terceira vida não sabe que a possui, não é uma pessoa ainda. Cabe a mãe julgar certo dar
fim a uma vida humana, dado o estado de desenvolvimento que ela se encontra. A decisão dela deve estar de acordo com sua própria consciência, já que o feto ainda não a tem.
A população deve entender que abortar é matar um humano,
desde o momento em que o embrião é embrião ele possui DNA humano. Ele é humano. Abortar é matar um humano e isso não deveria importar. O que a população em geral não entende é que o
errado em matar um humano (e também crime) não é pelo motivo de estarmos
matando uma vida que tem DNA humano e sim acabando com sonhos, com alguém que tem personalidade
única, família, círculo social, e principalmente, matando alguém que é igual a
nós, consciente de si, com emoções, sentimentos, dores e vontade enorme de continuar vivendo. Matar um humano não é errado só por ele ser um humano e sim
por todas as características que faz dele uma PESSOA. E o feto em idade
abortiva não possui nenhuma dessas características, por tanto, por essa ótica,
pode ser moral e ético matar um ser humano nessas condições. A mulher deve ter
esse direito por esse motivo.
Saúde pública
“Segundo o IAG, Instituto Alan
Guttmacher, entidade americana que estuda a questão do aborto no mundo, cerca
de 1 milhão de mulheres abortam no Brasil todos os anos. Vivemos em um país
extremamente desigual, e essa disparidade aparece quando analisamos o aborto no
Brasil. As moças e mulheres que podem pagar até cerca de 5 mil reais pelo
procedimento conseguem realizá-lo com um mínimo de segurança do ponto de vista
médico. As pobres, infelizmente, estão sujeitas a todo tipo de agressão física
e psicológica a que a situação clandestina lhes inflige. Entretanto, todas
correm riscos ao se submeterem ao procedimento, como mostra a morte trágica e
recente de Jandira dos Santos Cruz e Elisângela Barbosa, ambas no Rio de
Janeiro.
Do ponto de vista econômico, segundo
o ginecologista Jefferson Drezett, coordenador do Ambulatório de Violência
Sexual e de Aborto Legal do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, “os
recursos que gastamos para tratar as graves complicações do aborto clandestino
são muito maiores que os recursos de que precisaríamos para atender as mulheres
dentro de um ambiente seguro e minimamente ético e humanizado”".
Outro argumento bastante utilizado
por quem é contra a descriminalização do aborto é que as mulheres iriam passar
a adotá-lo como método anticoncepcional. Ainda segundo o dr. Drezett, “em quase
trinta anos de ginecologia, não conheci uma única mulher que quisesse
experimentar uma gravidez indesejada para saber se é bom fazer um abortamento.
Usar esse argumento é tratar a mulher como estúpida”. Bem, é o que temos feito
em larga escala.” (Mariana Varella)
A questão
de evitar a gravidez também é um assunto muito debatido pelas pessoas, mesmo
que a maioria não tenha o exato conhecimento sobre. Afinal, existe método anticoncepcional
100% seguro?
A resposta pura e simples é um
redondo não.
O especialista Sérgio Podgaec, ginecologista e vice-presidente da
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein diz que “a eficácia para prevenir uma gravidez depende
não apenas da proteção de cada método, mas também de seu uso correto e
consistente. A taxa de falha tende a ficar menor à medida que as usuárias se
tornam mais experientes em um determinado método, e a consulta regular com o
ginecologista tem o potencial de diminuir as possíveis falhas. Porém o risco
não será zero. Não existe, até o momento, anticoncepcional 100% seguro”,
e Patricia Bretz, ginecologista da Clínica Mais Vitta e
mestre em Bioética afirma que “o único método
anticoncepcional 100% eficaz é a abstinência sexual ou a histerectomia [remoção
cirúrgica do útero].
Mesmo
que se use mais de um método ao mesmo tempo, a eficácia não muda. Além de
nenhum médico responsável permitir o uso simultâneo de DIU e pílula
anticoncepcional, por exemplo, os riscos de falha de cada um (0,7% do DIU e
entre 1% e 9% da pílula) continuam existindo paralelamente. As eficácias não se
acumulam para passar de 100%, isso não existe. O mesmo vale para casos em que a
mulher utilize o seu método de escolha e o homem use a camisinha: as
probabilidades de falha do anticoncepcional da mulher e do preservativo do
homem (entre 2% e 18%) se mantêm, as eficácias não se acumulam.
Visto que não
existe método concepcional 100% seguro e que o ato de abortar pode ser moral
para uns e imoral para outros, sendo isso irrelevante para o feto, não há
motivos para que a legalização da prática não seja feita, pois a saúde pública
e o direito da mulher de decidir sobre sua própria vida está acima de qualquer
opinião de qualquer grupo que não sejam elas próprias.
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